domingo, 27 de dezembro de 2009

Helder Ferreira, impressionante, ESCRECREVENDO PENSANDO

Esta é uma época ideal para as pessoas se sentirem felizes, para atirarem os problemas para tráz das costas, mas eu com a minha mania de complicar acabei por estragar tudo.
Peguei num pequeno livro que me chegou às mãos tipo presente e…
Sem pensar duas vezes, comecei a devora-lo, como se não existisse amanhã, já sabia de antemão qual era a história, mas não imaginava o drama que este pequeno livro continha.
Tudo se resume a um rapaz, que habita bem perto de mim, e como eu com a azáfama diária não tenho prestado muita atenção ao que me rodeia nem sabia do drama que se tem passado.
Aqui há uns tempos a esta parte na realidade falou-se qualquer coisa lá em casa, sobre um tipo que escreveu um livro e estava tetraplégico, eu no meu mundo de faz de conta nem tão pouco prestei a mínima atenção, hoje depois de devorar o livro numa só penada tenho que pedir desculpa, desculpa porque normalmente sou o primeiro a pregar aos peixinhos as dificuldades da vida, e não tenho olhado para o lado e reflectido o suficiente sobre as dificuldades dos outros, e que dificuldades.
Como já referi li o livro, sem pestanejar e tenho que admitir, várias foram as vezes em que as lágrimas me invadiram o rosto, umas por compaixão, outras por raiva, raiva de termos que viver inseridos numa sociedade rasca, cheia de preconceitos sem o mínimo respeito pelos outros.
( Agora falo para ti Hélder), ainda que saiba que possivelmente nunca irás ler este texto, mas ainda assim arrisco a escrever aquilo que penso, eu não sou como tu, não tenho a tua coragem nem a tua vontade de viver por isso a minha admiração é ainda maior, eu se estivesse na tua pele não teria a mínima vontade de viver com toda a certeza.
A que cada folha que desfolhava nesta tua obra, e digo obra porque na realidade o considero, não por pena, como todos os que se referiram a ti como um coitadinho, mas porque o é na realidade, por isso mesmo é que eu reafirmo a tua coragem a tua força, enquanto eu fico no meu canto sem mexer a porcaria de uma palha a esse respeito, eu no meu egoísmo nem olho para as dificuldades dos outros com a devida atenção e depois, bom depois sou tal e qual aquela tua visita que murmurou que o melhor para todos teria sido o teu fim naquela noite trágica de vinte e nove de Junho de 2003, eu na verdade no meu intimo egoísta também penso assim desculpa, é sem duvida o que posso fazer neste momento.
Devo ainda pedir desculpa por esta sociedade que não sabe lidar com os seus semelhantes, quando estes têm alguma dificuldade e a tua é tão grande, desculpa ainda por aqueles profissionais de saúde, que mais não são que trabalhadores de um qualquer matadouro de animais para a alimentação dos humanos, não deveria ser assim mas, como tu próprio deste conta, é este o nosso panorama é esta a nossa sociedade.
Hélder, eu provavelmente nunca terei coragem suficiente para te fazer uma visita, apesar de vivermos a muito pouca distância, apesar de saber que visitar os enfermos é um dos mandamentos da lei do teu Deus, sim teu porque eu cada vez acredito menos em deuses, sou cada vez mais séptico em relação a religiões sejam elas a católica ou outra qualquer, se Deus existe, se é ele que coordena tudo isto, que raio fizeste tu de mal para tal castigo, como afirma Saramago numa das suas obras não sei bem qual, "Deus fez o mundo em seis dias e depois esqueceu-se dele", deixou a obra ao abandono.
Sabes Hélder, depois desta minha fúria de raiva, depois de este meu despejar de emoções, espero sinceramente que a medicina consiga um dia destes avanços suficientes, e que a tua recuperação seja uma realidade, que um dia sem preconceitos eu possa verte caminhar, falar e ouvir-te tocar a tua viola (d´arco) não sei o que isto é mas acredito que seja bem importante para ti.
Espero ainda que sejas tu próprio a pedir uma explicação á enfermeira que comeu o teu lanche, não por desforra, mas porque será um sinal que a tua recuperação é uma realidade.
Para os que te acompanham todos os dias da tua vida, o meu bem-haja, muito obrigado, são realmente pessoas destas que conseguem contornar as dificuldades que a vida nos obriga a passar.
Força amigo se me permites que assim te trate, ainda que até hoje desconhecesse a tua existência, e tu aqui tão perto.

1 comentário:

  1. Éra uma vez um jardim, cheio de flores, todas elas diferentes, mas para o lavrador que as tratava todas eram iguais, o seu tempo e carinho era distribuido por igual, sem preferencias. Todos os dias eram regadas e eram banhadas pelo mesmo sol.
    Mas quis o infortunio que algumas ficassem mais fracas. O lavrador começou a dedicar-lhes mais tempo, mas mesmo assim não conseguiu que recuperassem.
    Estas flores debilitadas passavam o tempo a lamentar-se pela sua sorte, chegando mesmo a questionar-se se a dedicação que o lavrador lhes prestava era igual á que dava ás outras flores que floresciam fortes.
    A vida é mesmo assim,somos todos diferentes, mas o "lavrador" é o mesmo. Acho que o Helder já chegou a essa conclusão. Por muitas desilusões que a vida nos traga existe sempre um raio de luz para nos iluminar. Pior do que tudo o que nos possa acontecer, é deixarmo-nos caminhar na escuridão. Parabêns ao Helder que com o seu exemplo faz com que os nossos problemas pareçam insignificantes.

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